sábado, 10 de outubro de 2009

23 de Março de 1988.

Eu estava caminhando numa viela na madrugada da pacata cidade de Hurts.
Pude observar mulheres ganhando a vida ao vender seus corpos, pude presenciar jovens que encontram no errado caminho das drogas refúgio e no final da estreita rua pude notar uma família inteira sobre um pedaço de papelão. Três mundos diferentes e tão próximos. Era engraçado, aterrorizante. Esperei que o dia amanhecesse e com as mãos em um dos bolsos de uma velha calça jeans segui o meu caminho incerto.
Na minha mente permaneceu a imagem da vistosa garota de cachos dourados como o sol em um dos seus dias de alegria. Aqueles jovens de mentes vazias, mas extr
emamente experientes com as mazelas da escola da vida. Ainda tenho em mente aquela família em condições subumanas, entretanto unidas.
Bem, o meu nome não muito importa, mas devo me apresentar. Chamo-me Lívia.
Há anos atrás, quando eu tinha apenas quatro anos de idade fui a uma festa de Carnaval na cidade do São Salvador. Usava uma roupa rosa, um rosa bebê. Eu estava realizando o sonho de muitas garotas da minha idade, eu era a fadinha do amor. Nas mãos levava delicada e orgulhosamente uma varinha. Minha professora do jardim contava todos os dias uma nova e envolvente aventura no mundo da fantasia. Já quis ser a Cinderela, a Bela Adormecida, ou até mesmo a Alice no País das Maravilhas.
Já passavam das três da manhã e meu pai me chamava para irmos. Andava saltitante com a minha varinha mágica até chegarmos a rua do estacionamento que estava paralisada com o estrondoso barulho dos pneus de um automóvel. Os pneus cantavam proporcionando uma desagradável sinfonia. A sua marca não me recordo. Na verdade, quando eu busquei fitá-lo eu já estava caída no chão. O imponente carro havia atropelado um simpático senhor que sem reação caiu sobre uma das minhas pernas. Eu não senti dor alguma, eu apenas tentava acordar um ancião caído sobre mim. A minha varinha não funcionou. Naquele momento a magia havia falhado.

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